AMARRAÇÕES
Maio 19, 2012 por Manuela
Este é um dos temas mais polémicos de que podemos falar, não só no
enquadramento do Candomblé, como de qualquer prática religiosa que
utilize rituais de magia.
Cabe em primeiro lugar salientar que a magia, como tudo na vida, tem o
seu lado bom e o seu lado mau, ou se preferir-mos, o seu lado positivo e
o seu lado negativo, e cabe a cada um de nós escolher a utilização que
lhe queremos dar.
Está na natureza humana a constante luta por conseguir tudo aquilo
que pretende, desde os objectivos mais elevados, até àqueles que nem
vale a pena descrever… de tão ignóbeis que podem ser. E uma vez mais,
aqui, também é a nossa escolha que prevalece. Somos nós que escolhemos
as nossas metas e os nossos objectivos, e por isso, cabe-nos a nós
também escolher os meios. E se não é tão questionável que os fins
justifiquem os meios, devemos de facto preocupar-nos com os meios que
escolhemos para atingir os nossos fins, porquanto, pelo caminho, estão
quase sempre em jogo pessoas… e até vidas!
Particularmente no Candomblé, e porque esta página a ele é dedicada, a
prática de rituais de magia é uma constante, mas, vamos então analisar
como ela é utilizada, por quem e para que fins.
Os Ebós, as Oferendas e as Simpatias, são algumas das formas de magia
que utilizamos, mas estes, todos eles sem excepção, foram criados
originalmente com o intuito de corrigir alguma situação errada na vida
de uma pessoa e para tal pode-se recorrer ao auxílio de diversas
entidades; em primeira linha aos Orixás e depois, a outras entidades,
que pelo seu estado evolutivo e pelas suas características, se
assemelham mais a nós, humanos – aqui enquadram-se os Exús pagãos, as
Pombagiras e os Caboclos – e estão de facto num plano mais próximo de
nós.
Qualquer destas entidades pode ser uma mais valia na vida de uma
pessoa, pois o seu auxílio chega sempre, e se devidamente tratados são
nossos aliados preciosos.
Mas a magia, como já referi, também tem as duas faces da moeda, e a
quem a pratica, é necessário, diria mesmo essencial, conhecer os dois
lados, tornando-se mais uma vez necessário escolher o lado que se vai
utilizar, e esse lado deve ser sempre o lado positivo e construtivo.
Poderíamos aqui, a título de exemplo, encarar como um veneno, que
pode ser utilizado e para o qual é sempre necessário conhecer o
antídoto: é do próprio veneno da cobra que se criam os antídotos que são
utilizados para curar quem é picado por ela - na magia, grosso modo,
também temos que conhecer tanto o veneno como o antídoto, porque para se
tratar ou curar alguém que tenha sido atingido pela magia negativa, é
necessário saber contrapor.
Obviamente, não vou aqui explicar – nem o poderia fazer – os detalhes
desse conhecimento, o importante é que fique claro que quem mexe com um
lado tem que conhecer o outro. Um dos magos mais conhecidos de sempre,
São Cipriano, começou por ser um dos melhores magos que já se conheceram
a manejar a chamada Magia Branca, mas de igual modo, mais tarde na sua
vida, virou, e tornou-se um dos mais temidos e eficientes magos da Magia
Negra. Também para ele isto só foi possível porque tinha conhecimento
verdadeiro e profundo de como os dois lados funcionam.
Portanto, assim como se pode Amarrar, também se pode sem dúvida
Desamarrar, mas isto só é possível a quem tenha verdadeiros e
fundamentados conhecimentos.
Convenhamos no entanto que não são muitos aqueles que estão
verdadeiramente capacitados para isto, portanto, quando pensar em fazer
ou solicitar uma Amarração, pense, não duas, não três vezes, mas muitas
vezes naquilo que está a pedir, pois você jamais terá a garantia de que o
seu pedido possa ser atendido
Ao fazer uma Amarração, você não só estará a pedir algo para si, como
estará a mexer com a vida de outra pessoa, e de alguma forma forçando-a
a agir de uma maneira que ela muito provavelmente não quer, não de
forma voluntária e consciente. Quando isso acontece, muita coisa se
altera, e por vezes os resultados não são nada satisfatórios e são até
perniciosos para a vida das pessoas envolvidas.
Imagine uma situação em que você quer muito ficar com uma outra
pessoa e faz uma Amarração para conseguir o seu intuito. Imagine agora
que uma segunda pessoa está interessada nessa mesma pessoa para quem
você fez a Amarração e resolve também, para conseguir o seu intuito,
fazer também uma Amarração. Como é que fica essa pessoa que está pelo
meio? E você, vai conseguir o seu intuito? Ou é a outra pessoa que vai
conseguir?
Este tipo de situação não é inédito, é até cada vez mais comum, dado
que são cada vez em maior número as pessoas que recorrem a este tipo de
magia (embora a maioria jamais vá admitir que o fez!), e garanto que
daqui não sai nada de bom para nenhuma das partes envolvidas, só
confusão e mais confusão e muita dor. Cria-se assim um ciclo vicioso, e
nenhuma das partes vai sair a contento.
Ainda que posteriormente seja feita a magia para Desamarrar,
entretanto, já muita coisa aconteceu que não tem retorno e já nada
voltará a ser como era antes, ainda que a Desamarração seja um sucesso.
Amarração mexe com o destino da pessoa, e nós simplesmente não temos o
direito de impor a nossa vontade na vida e no destino dos outros. Esta
forma de utilizar a magia não é de todo uma forma positiva. Está na hora
de todos perceber-mos isto e agir-mos em conformidade.
Gostaria, de uma vez por todas, que os verdadeiros adeptos e/ou
praticantes do Candomblé, independentemente do posto que ocupem, se
negassem determinadamente a aceitar este tipo de trabalhos que
constantemente nos pedem, ou sequer de pensar neles como uma solução
para as nossas vidas, porque não é de facto uma solução; mais que não
seja, pelas consequências kármicas que lhes são inerentes e que o nosso
lado espiritual jamais deve esquecer – chama-se Lei do Retorno!
Há sempre uma forma diferente de ajudar as pessoas… pelo lado positivo!
Axé!
Há sempre uma forma diferente de ajudar as pessoas… pelo lado positivo!
Axé!
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